O avanço tecnológico tem
impulsionado de forma expressiva a demanda por energia. Contudo, o setor
energético permanece entre os principais responsáveis pelos danos ambientais,
em razão de sua elevada dependência de combustíveis fósseis. Esses recursos, ao
serem utilizados, emitem substâncias poluentes na atmosfera, com destaque para
o dióxido de carbono (CO₂), responsável por 55% das emissões globais de gases
do efeito estufa (GEE).
Diante desse cenário, reduzir
tais emissões para conter o aquecimento global, sem comprometer o crescimento
econômico mundial, impõe um desafio complexo aos governos: como conciliar o
avanço tecnológico acelerado com a urgência da preservação ambiental?
Nesse contexto, o hidrogênio
verde — produzido a partir de fontes renováveis, como energia solar e eólica —
surge como uma alternativa promissora. Ele tem o potencial único de acelerar a
transição energética, substituindo fontes poluentes por uma produção baseada na
eletrólise da água, sem gerar emissões de carbono ou de qualquer outro gás
poluente. Trata-se de uma solução sustentável e estratégica para setores
industriais e de transporte, que lidam com uma alta demanda de energia em suas
atividades.
Segundo o World Economic Forum, o
hidrogênio verde pode ser responsável por cerca de 10% da redução global
necessária para atingir a neutralidade de carbono até 2050. O Brasil destaca-se
nesse cenário com seu vasto potencial técnico para a produção dessa alternativa
sustentável. De acordo com a Agência Senado, o país tem capacidade para
produzir até 1,8 bilhão de toneladas anualmente, impulsionado por seus
abundantes recursos de energia renovável.
Projeções indicam que, até 2030,
o Brasil poderá alcançar uma produção entre 0,6 e 1,1 milhão de toneladas
anuais, com cerca de 60% voltadas ao mercado interno. Até 2050, a produção
nacional pode chegar a 32 milhões de toneladas por ano, garantindo ao país até
10% do mercado global.
Na esfera internacional, países
como Austrália, Alemanha, China, Arábia Saudita e Chile já estão implementando
iniciativas ambiciosas para liderar a produção de hidrogênio verde. Esses
esforços incluem grandes projetos de infraestrutura e inovação tecnológica, que
colocam essas nações na vanguarda da transição energética.
Em território brasileiro, tanto
empresas públicas quanto privadas têm investido no desenvolvimento de projetos
que visam consolidar o país como uma referência global na produção de
hidrogênio verde. Essas iniciativas estão espalhadas por diferentes estados e
incluem desde plantas-piloto até empreendimentos em larga escala.
No entanto, estamos diante de um
cenário ainda incipiente, que carece de viabilidade financeira e logística para
a produção em larga escala. O alto custo de produção e a dificuldade de
construir infraestrutura para fornecer H2V, como plantas de produção e
gasodutos de transporte, ainda são entraves para a ampliação da demanda, que
ainda é pequena.
Em razão dessas barreiras, é
imprescindível o fortalecimento das parcerias e pesquisas entre organizações e
setores. Nessa perspectiva, para o Brasil se tornar mais competitivo em âmbito
global, é preciso reduzir o custo de produção do hidrogênio verde ou
compensá-lo com incentivos.
Pois, ao serem superadas essas
barreiras, o hidrogênio verde se tornará a opção de combustível sustentável
número um para o abastecimento de máquinas e meios de transporte, e o Brasil
estará estrategicamente posicionado para se tornar um player global nesse
mercado. Aproveitando seus recursos naturais e o crescente interesse
internacional, o país pode tanto contribuir para a redução das emissões globais
quanto se destacar como um líder na construção de uma economia mais
sustentável.
*Abelardo de Sá - Diretor de
Energia e Infraestrutura da Fictor