A materialidade como estratégia corporativa para a sustentabilidade
Como a adoção de boas práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa nas empresas mitiga riscos e impacta a atração de investimentos? De olho nesse questionamento, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), por meio de seu Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Cmas), promoveu terça-feira (28/11), na Casa da Indústria, a Maratona ESG. O evento, que contou com apoio e patrocínio de grandes indústrias, foi o maior já realizado em Goiás para discutir o tema, de crescente debate mundialmente. Durante todo o dia, especialistas abordaram boas práticas no relacionamento com stakeholders, regulação ambiental, ética e compliance empresarial.
"É a concretização de uma ação planejada por meses pelos conselheiros do Cmas, reconhecendo a importância do tema ao futuro das indústrias e o interesse crescente das empresas de se adequarem a esse novo cenário. A sustentabilidade é um dos pilares da Fieg. Trabalhamos isso não só em nossas unidades e escolas, mas, sobretudo, incentivamos e apoiamos as indústrias nessa jornada", afirmou o vice-presidente da Fieg Flávio Rassi, que também preside o Cmas, na abertura do evento.
A programação da maratona contou com palestras de um verdadeiro time de especialistas: o diretor de Estratégia do Grupo Report, Victor Netto; a consultora em Sustentabilidade e Regeneração na Vamos Regenerar, Bárbara Rocha; a cofundadora e especialista ESG Sênior da Abissal Capitalismo Saudável, Camila Abigail Storti; o superintendente de Varejo do Banco do Brasil na Região Centro-Oeste, Allan Trancoso Ferraz Silva; a superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Saneago, Camila Roncato; o superintendente de Licenciamento Ambiental de Recursos Hídricos da Semad, Marcelo Bernardi Valerius; o diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi Goiás, Bruno Godinho; e o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Goiás, Juliano Barros Araújo.
Dados de pesquisa da Union+Webster, divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), mostram que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis e 70% dos entrevistados disseram que não se importam em pagar um pouco mais por isso. A pesquisa mostra ainda que as empresas que adotam práticas mais responsáveis e preocupadas com o meio ambiente são mais bem vistas por funcionários e fornecedores e que os clientes veem essas marcas com mais credibilidade.
"Percebemos uma grande mudança nas últimas duas décadas, com o avanço do conceito de desenvolvimento sustentável e preocupação com as gerações futuras. É ultrapassado o pensamento de que fazer social é fazer filantropia, como um pedágio que o negócio paga para desenvolver suas atividades. Houve uma mudança do perfil de riscos de econômico para ambientais e sociais. O risco climático passa a ser risco de investimento", sustentou Victor Netto.
Segundo o diretor do Grupo Report, as regras do jogo foram ampliadas, com novas variáveis, e as empresas precisam adaptar-se ao mesmo tempo que a roda segue a girar. "É fundamental ter uma perspectiva mais ampla do negócio para lidar com cenários complexos. Não se trata de ações pontuais, mas de uma estratégia clara para atuar nessa nova dinâmica do mercado. Não é pagar o pedágio, mas entender o que pode ser feito para ter uma atuação mais limpa, responsável, criando oportunidades e tornando mais evidentes os atributos da marca."
Dados recentes da pesquisa Sustentar para Ganhar: Desvendando Práticas Ecológicas para Alcançar o Crescimento de Marca, desenvolvida pela Kantar, comprovam o crescimento de consumidores engajados com sustentabilidade. A expectativa é de que os Eco-Actives (consumidores mais comprometidos com a sustentabilidade) cheguem a 49% em 2027, representando um potencial de US$ 46,2 bilhões em compra de bens massivos de consumo, somente na América Latina.
MATERIALIDADE
Dentro dessa perspectiva da sustentabilidade como estratégia do negócio, a consultora Bárbara Rocha abordou a importância da materialidade e do engajamento com stakeholders, ou seja, com os grupos e pessoas impactadas pela existência e negócios da empresa. "Considerando uma abordagem conectada do planejamento com a gestão de riscos e oportunidades, a sustentabilidade passa a integrar a estratégia do negócio."
Bárbara explicou que o modelo incorpora fatores externos presentes e potenciais e detalhou o processo de desenvolvimento do GRI (acrônimo inglês de Iniciativa Global de Informação), ferramenta adotada por mais de 90% das empresas que medem indicadores de performance social, ambiental e de governança. "O relato é muito importante, mas é fundamental conectá-lo à estratégia. Isso ajuda a capturar tendências e criar oportunidades. A matriz de materialidade proporciona o ajuste de rota e dá direção às ações implementadas pela empresa."
A especialista Camila Storti, da Abissal Capitalismo Saudável, defendeu que Goiás tem potencial para ser protagonista na pauta ESG e citou como exemplo o setor da construção civil. "Hoje, as construtoras competem em Goiânia para ver quem é a mais sustentável", afirmou, completando que o sucesso da jornada ESG em um negócio está intrinsecamente ligado ao fomento dessa cultura na empresa.
Para ela, o que cria uma cultura é o hábito, e não uma sequência de políticas e atos burocráticos. "Isso chancela, mas não cria o hábito. É preciso que os gestores, o dono, vistam essa camisa e promovam essa transformação cultural."
Dados apresentados pela especialista mensuram que US$ 40 trilhões vão movimentar a economia nos próximos anos e esses investimentos e escolhas dos consumidores millenials ou Geração Y (pessoas nascidas após 1980) estão voltados a negócios que entenderam a importância da sustentabilidade e da adoção de boas práticas ESG. "É uma demanda global de fora para dentro da empresa. O valor está no e/ou para o stakeholder. Trata-se de uma maioria silenciosa que traz o ESG como imperativo. O dinheiro do mundo vai movimentar ESG nos próximos anos e o empresário precisa estar atento e olhar para essa mudança", ressaltou Camila Storti.
ESTUDO DE CASO
A Maratona ESG contou também com apresentação da superintendente da Saneago Camila Roncato, que apresentou números alcançados após adoção de boas práticas alinhadas à estratégia ESG da companhia. Dentre ações na área ambiental, foram consideradas questões de segurança hídrica, gestão de perdas, resíduos sólidos e proteção e recuperação ambiental.
Nos últimos cinco anos, o índice de perdas de água pela Saneago em Goiânia diminuiu 13,26% e, em todo o Estado, caiu 4%. Atualmente, enquanto a média nacional de perda de água é de 40,3%, em Goiás o indicador está em 28,54%, o melhor resultado do País, à frente do Paraná (33,75%) e de Mato Grosso do Sul (33,40%), de acordo com dados do Instituto Trata Brasil.
No âmbito de proteção e recuperação ambiental, a companhia implementou ações em 228 nascentes, com recuperação em 162 propriedades rurais e contribuição para o aumento de vazão dos mananciais de abastecimento público. Na área social, a Saneago atendeu quase 900 mil pessoas com ações socioambientais, inclusive em comunidades Kalunga, que passaram a receber água tratada com regularidade.
O evento na Fieg mobilizou ainda um momento TED Talk, abordando cada um dos temas ESG. O superintendente da Semad Marcelo Bernardi falou sobre o E de Environmental (Ambiental), o diretor do Sesi Goiás Bruno Godinho abordou o S de Social e o promotor Juliano Araújo o G de Governança.
"É uma jornada, mas não precisa ser uma odisseia. Não é trilho, reto e definido, mas uma trilha que permite à empresa se adaptar. No final, as relações corporativas não são mais B2B (business to business) ou B2C (business to consumer), mas P2P (person to person). No fundo, é tudo pelas pessoas", concluiu Godinho.
A Maratona ESG contou com apoio do Sebrae Goiás, Caramuru, Taticca, Brainfarma, Lundin Mining e Sindifargo. Os presidentes de sindicatos Antônio Santos (Alimentação), Célio Eustáquio de Moura (SindiEnergias), Marçal Soares (Sindifargo) e Thais Santos (Fieg Jovem), os representantes das empresas Isabela Landin (Brainfarma), Samuel Meier (Lundin Mining) e Thaís Ribeiro (Caramuru) e a analista do Sebrae Goiás Fernanda Santos acompanharam as palestras.
"É a concretização de uma ação planejada por meses pelos conselheiros do Cmas, reconhecendo a importância do tema ao futuro das indústrias e o interesse crescente das empresas de se adequarem a esse novo cenário. A sustentabilidade é um dos pilares da Fieg. Trabalhamos isso não só em nossas unidades e escolas, mas, sobretudo, incentivamos e apoiamos as indústrias nessa jornada", afirmou o vice-presidente da Fieg Flávio Rassi, que também preside o Cmas, na abertura do evento.
A programação da maratona contou com palestras de um verdadeiro time de especialistas: o diretor de Estratégia do Grupo Report, Victor Netto; a consultora em Sustentabilidade e Regeneração na Vamos Regenerar, Bárbara Rocha; a cofundadora e especialista ESG Sênior da Abissal Capitalismo Saudável, Camila Abigail Storti; o superintendente de Varejo do Banco do Brasil na Região Centro-Oeste, Allan Trancoso Ferraz Silva; a superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Saneago, Camila Roncato; o superintendente de Licenciamento Ambiental de Recursos Hídricos da Semad, Marcelo Bernardi Valerius; o diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi Goiás, Bruno Godinho; e o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Goiás, Juliano Barros Araújo.
Dados de pesquisa da Union+Webster, divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), mostram que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis e 70% dos entrevistados disseram que não se importam em pagar um pouco mais por isso. A pesquisa mostra ainda que as empresas que adotam práticas mais responsáveis e preocupadas com o meio ambiente são mais bem vistas por funcionários e fornecedores e que os clientes veem essas marcas com mais credibilidade.
"Percebemos uma grande mudança nas últimas duas décadas, com o avanço do conceito de desenvolvimento sustentável e preocupação com as gerações futuras. É ultrapassado o pensamento de que fazer social é fazer filantropia, como um pedágio que o negócio paga para desenvolver suas atividades. Houve uma mudança do perfil de riscos de econômico para ambientais e sociais. O risco climático passa a ser risco de investimento", sustentou Victor Netto.
Segundo o diretor do Grupo Report, as regras do jogo foram ampliadas, com novas variáveis, e as empresas precisam adaptar-se ao mesmo tempo que a roda segue a girar. "É fundamental ter uma perspectiva mais ampla do negócio para lidar com cenários complexos. Não se trata de ações pontuais, mas de uma estratégia clara para atuar nessa nova dinâmica do mercado. Não é pagar o pedágio, mas entender o que pode ser feito para ter uma atuação mais limpa, responsável, criando oportunidades e tornando mais evidentes os atributos da marca."
Dados recentes da pesquisa Sustentar para Ganhar: Desvendando Práticas Ecológicas para Alcançar o Crescimento de Marca, desenvolvida pela Kantar, comprovam o crescimento de consumidores engajados com sustentabilidade. A expectativa é de que os Eco-Actives (consumidores mais comprometidos com a sustentabilidade) cheguem a 49% em 2027, representando um potencial de US$ 46,2 bilhões em compra de bens massivos de consumo, somente na América Latina.
MATERIALIDADE
Dentro dessa perspectiva da sustentabilidade como estratégia do negócio, a consultora Bárbara Rocha abordou a importância da materialidade e do engajamento com stakeholders, ou seja, com os grupos e pessoas impactadas pela existência e negócios da empresa. "Considerando uma abordagem conectada do planejamento com a gestão de riscos e oportunidades, a sustentabilidade passa a integrar a estratégia do negócio."
Bárbara explicou que o modelo incorpora fatores externos presentes e potenciais e detalhou o processo de desenvolvimento do GRI (acrônimo inglês de Iniciativa Global de Informação), ferramenta adotada por mais de 90% das empresas que medem indicadores de performance social, ambiental e de governança. "O relato é muito importante, mas é fundamental conectá-lo à estratégia. Isso ajuda a capturar tendências e criar oportunidades. A matriz de materialidade proporciona o ajuste de rota e dá direção às ações implementadas pela empresa."
A especialista Camila Storti, da Abissal Capitalismo Saudável, defendeu que Goiás tem potencial para ser protagonista na pauta ESG e citou como exemplo o setor da construção civil. "Hoje, as construtoras competem em Goiânia para ver quem é a mais sustentável", afirmou, completando que o sucesso da jornada ESG em um negócio está intrinsecamente ligado ao fomento dessa cultura na empresa.
Para ela, o que cria uma cultura é o hábito, e não uma sequência de políticas e atos burocráticos. "Isso chancela, mas não cria o hábito. É preciso que os gestores, o dono, vistam essa camisa e promovam essa transformação cultural."
Dados apresentados pela especialista mensuram que US$ 40 trilhões vão movimentar a economia nos próximos anos e esses investimentos e escolhas dos consumidores millenials ou Geração Y (pessoas nascidas após 1980) estão voltados a negócios que entenderam a importância da sustentabilidade e da adoção de boas práticas ESG. "É uma demanda global de fora para dentro da empresa. O valor está no e/ou para o stakeholder. Trata-se de uma maioria silenciosa que traz o ESG como imperativo. O dinheiro do mundo vai movimentar ESG nos próximos anos e o empresário precisa estar atento e olhar para essa mudança", ressaltou Camila Storti.
ESTUDO DE CASO
A Maratona ESG contou também com apresentação da superintendente da Saneago Camila Roncato, que apresentou números alcançados após adoção de boas práticas alinhadas à estratégia ESG da companhia. Dentre ações na área ambiental, foram consideradas questões de segurança hídrica, gestão de perdas, resíduos sólidos e proteção e recuperação ambiental.
Nos últimos cinco anos, o índice de perdas de água pela Saneago em Goiânia diminuiu 13,26% e, em todo o Estado, caiu 4%. Atualmente, enquanto a média nacional de perda de água é de 40,3%, em Goiás o indicador está em 28,54%, o melhor resultado do País, à frente do Paraná (33,75%) e de Mato Grosso do Sul (33,40%), de acordo com dados do Instituto Trata Brasil.
No âmbito de proteção e recuperação ambiental, a companhia implementou ações em 228 nascentes, com recuperação em 162 propriedades rurais e contribuição para o aumento de vazão dos mananciais de abastecimento público. Na área social, a Saneago atendeu quase 900 mil pessoas com ações socioambientais, inclusive em comunidades Kalunga, que passaram a receber água tratada com regularidade.
O evento na Fieg mobilizou ainda um momento TED Talk, abordando cada um dos temas ESG. O superintendente da Semad Marcelo Bernardi falou sobre o E de Environmental (Ambiental), o diretor do Sesi Goiás Bruno Godinho abordou o S de Social e o promotor Juliano Araújo o G de Governança.
"É uma jornada, mas não precisa ser uma odisseia. Não é trilho, reto e definido, mas uma trilha que permite à empresa se adaptar. No final, as relações corporativas não são mais B2B (business to business) ou B2C (business to consumer), mas P2P (person to person). No fundo, é tudo pelas pessoas", concluiu Godinho.
A Maratona ESG contou com apoio do Sebrae Goiás, Caramuru, Taticca, Brainfarma, Lundin Mining e Sindifargo. Os presidentes de sindicatos Antônio Santos (Alimentação), Célio Eustáquio de Moura (SindiEnergias), Marçal Soares (Sindifargo) e Thais Santos (Fieg Jovem), os representantes das empresas Isabela Landin (Brainfarma), Samuel Meier (Lundin Mining) e Thaís Ribeiro (Caramuru) e a analista do Sebrae Goiás Fernanda Santos acompanharam as palestras.
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