Redução de spread permitiu à instituição ampliar operações
O Sicoob, um dos principais agentes financiadores do campo no país, ampliou seu limite equalizável em duas linhas no Plano Safra 2022/23, após reduzir o spread cobrado dos produtores, e está acelerando seu avanço na área de crédito rural.
Com um corte de 11,4% nas taxas, ou 0,57 ponto porcentual, em média, o volume de recursos com equalização, que foi de R$ 1,1 bilhão da temporada 2021/22, saltou para R$ 9,2 bilhões. O montante inclui os programas para custeio de médios e grandes produtores alimentados com captações da poupança rural.
O corte do Custo Administrativo e Tributário (CAT) foi um dos critérios que o governo adotou para distribuir a equalização. As quedas ocorreram nas linha de custeio empresarial, que passou de 5% para 4,39%, e no custeio do Pronamp, que foi de 5% para 4,5%. A taxa média ponderada ficou em 4,43% nos dois programas, abaixo dos 5% de 2021/22, o que abriu espaço para o Tesouro aplicar mais limites, já que, em tese, os recursos ficam mais baratos para o tomador final.
“O Sicoob viu que poderia fazer um esforço de redução dos custos internos para atender ao apelo por taxas menores. É uma forma de baratear um pouco o custo e possibilitar equalização de mais recursos”, disse ao Valor o diretor Comercial e de Canais do Sicoob, Francisco Reposse Júnior. “Salgou um pouco para o produtor [já que as taxas do Plano Safra subiram], ficaria mais salgado para o governo, e a gente percebeu que poderia tirar um pouco o custo e dividir a conta com os demais participantes”.
O Sicoob não conseguiu repetir a medida nas linhas de investimentos, que deverão exigir remanejamentos para atender ao apetite dos produtores. Alguns programas ficaram zerados, sem limites na subvenção do Tesouro. “Mas fomos bem atendidos nas demandas que fizemos. Vamos poder atender, sem correria, as demandas dos nossos cooperados e de quem quiser vir para o Sicoob”, disse.
Ao todo, o Sicoob terá R$ 24 bilhões de limite equalizável em 11 linhas de crédito, sendo três de investimentos. A expectativa é financiar R$ 41 bilhões até junho de 2023. Até setembro, a meta é R$ 10 bilhões.
Na safra 2021/22, o Sicoob recebeu R$ 4,9 bilhões de limite equalizável em 18 linhas. Depois dos quatro remanejamentos feitos pela equipe econômica ao longo da temporada, o limite subiu para R$ 7,4 bilhões no fim do ciclo, mas houve sobra de R$ 1,6 bilhão. A contratação em geral alcançou R$ 22,25 bilhões até junho deste ano.
Mesmo assim, Reposse Júnior prevê que será preciso suplementar algumas linhas de investimentos que não receberam limite equalizável — como a do Pronamp, para médios produtores. Apenas um terço da demanda da linha destinada ao segmento empresarial foi atendida, com R$ 240,2 milhões.
“É bem provável que a gente tente fazer algum remanejamento de custeio para investimento”, afirmou. Parte dessa demanda é atendida com repasses do BNDES, mas a corrida por esses recursos também foi intensa no início da safra.
Com a alta generalizada dos custos de produção, o governo priorizou as linhas de custeio nesta temporada. Mas, mesmo com os juros elevados, há procura por recursos para investir, relatou Reposse. Se não conseguir remanejar os saldos internamente ou buscar valores de outras instituições por meio dos Depósitos Interfinanceiros (DIR), a ideia do Sicoob é buscar outras fontes, como recursos próprios ou a emissão de Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).
O diretor disse que os contingenciamentos dos recursos equalizáveis feitos nas últimas duas safras foram um grande ensinamento para o planeja mento do Sicoob. “Vamos ter que arrumar mais dinheiro para os investimentos porque o custeio vai ser consumido, sim. A busca por custeio disparou, mas há demanda por investimentos”.
Pouco utilizadas até agora, as Cédulas de Produto Rural (CPR) podem virar uma alternativa no financiamento dos produtores rurais no Sicoob. A previsão da instituição é operar R$ 1 bilhão nesses títulos com recursos próprios. Na safra passada, os desembolsos nessa modalidade foram de pouco mais de R$ 300 milhões. Com informações de Rafael Walendorff | VE